Passámos 3 semanas sem nos vermos, sem telefonarmos, apenas e muito pouco, falando por msn. Doía cada dia mais… o aperto no coração, as lágrimas em silêncio à noite, os olhos baços… sentia-me como se me tivessem sugado a vida…
Por motivos profissionais, ao fim dessas 3 semanas acabámos por ter que nos encontrar. Estávamos ambos a desempenhar tarefas distintas, mas num mesmo espaço físico. Foi difícil… a concentração não vinha, trocávamos olhares e sorrisos fugazes sem que ninguém reparasse… Quando acabámos o trabalho, recebi um sms dele dizendo que precisava de falar comigo, e que esperava por mim nas traseiras do edifício no estacionamento. E eu corri para lá! Mantivemo-nos o tempo todo dentro do carro o mais afastados possível… conversámos, ficámos em silêncio apenas a olhar um para o outro, até que… num impulso, acabámos por nos beijar.
Depois do beijo voltámos a afastar-nos e a perguntar porquê!? Era errado, não queríamos, mas porque é que não conseguíamos controlar? Ele disse-me que tinha voltado para a namorada, mas que não se sentia bem com ela e voltou a terminar o namoro, e eu disse que continuava com o Luís, e que continuava a querer tentar não destruir o meu casamento… Voltámos a despedir-nos sem combinar nada e sem expectativas, mas aquele beijo acordou a paixão que estávamos a tentar adormecer… e na semana seguinte voltámos a combinar encontrarmo-nos.
E o efeito bola de neve voltou! Nunca mais conseguimos parar de nos encontrar. Cada dia nos sentíamos mais e mais apaixonados, cada dia trocávamos mais juras de amor, fazíamos planos, e cada vez mais eu sentia que estava com vontade de deixar o Luís para ficar com o Carlos. Esta situação arrastou-se durante 5 meses. Foi abalada pouco tempo depois de recomeçar, por uma notícia inesperada. O Carlos ia ser pai!
A ex-namorada tinha ficado grávida quando ele voltou para ela. No dia em que soube, ele convenceu-se que me ia perder para sempre, pois sabia da minha dificuldade em engravidar e de como isso me afectava… mas… apesar de magoada e triste… eu não deixei de sentir por ele aquilo que sentia… a criança não foi planeada mas não tinha culpa… aconselhei-o a que não expressasse à futura mãe a sua vontade de que ela fizesse um aborto, e continuei ao lado dele, mesmo consciente de que esta criança poderia vir a ser um foco de problemas caso ficássemos mesmo juntos.
A minha relação com o Luís claro que foi ficando cada vez mais distante e fria, mas acho que no fundo tinha um misto de dúvidas sobre o que queria e medo de avançar para o divórcio. Daí que tenha deixado arrastar a situação tanto tempo… mas mais uma vez, um dia o Luís descobriu. A minha saída de casa nessa altura foi inevitável.
Saí da pior forma possível, com tudo e todos contra mim, e sem sítio para onde ir. Claro que, quem me deu guarida foi o Carlos. Fomos viver juntos de imediato. Apesar de ter todo o “meu mundo” a ruir-me em cima, com o Carlos eu sentia-me feliz. O brilho nos olhos, e a sensação de felicidade típica das grandes paixões… não me largavam! Vivemos juntos durante 2 meses, ao fim desse tempo eu fui sentindo que me faltava algo… e acabei por deixar o Carlos e fui viver para casa da minha mãe.
Foi a pior fase que vivi. Fui-me completamente abaixo. Psicologicamente estava um farrapo… uma sombra de quem eu era. O Carlos ficou muito magoado comigo, mas apesar de tudo entendeu que tudo tinha sido demasiado rápido, que nos tínhamos precipitado face às circunstâncias… mas como me amava… continuou ao meu lado. Apoiou-me sempre, esteve comigo sempre, fosse a que horas fosse, estava sempre lá para mim.
Ajudou-me a reagir, a voltar a ter força de sair de casa, de voltar a trabalhar, de acreditar que a minha vida não tinha acabado e que podia dar a volta por cima. Claro que com a minha ida para casa da minha mãe, o Luís viu uma oportunidade de se aproximar de mim, e começou a convidar-me para beber café, para ir ao cinema… enfim… começámos a sair de vez em quando, a tentar conversar sobre o que se tinha passado, a tentar entender o porquê de nos ter acontecido tudo isto.
Esta aproximação encheu-me de dúvidas, e voltei a questionar-me se realmente queria avançar com o divórcio, ou se deveria tentar de novo… Abri o jogo com o Carlos, não o quis enganar, e disse-lhe que apesar de não se passar nada com o Luís, eu sentia que talvez devesse conviver mais com ele para esclarecer as dúvidas que me assolavam, e que me faziam questionar se realmente me queria divorciar. Ele… disse que me amava, que se tivéssemos que ficar juntos assim seria, desse o mundo as voltas que tivesse que dar…
A minha aproximação do Luís evoluiu, e num momento de fragilidade minha (por questões de saúde) acabei por aceitar que ficasse comigo… A partir daí voltámos a parecer dois amigos muito chegados, saíamos juntos, fazíamos programas, conversávamos imenso os dois… fomo-nos aproximando. Acabámos por voltar para a nossa casa, e embora ambos sentíssemos que as coisas entre nós estavam longe de estar bem, até porque ainda não tínhamos conseguido ultrapassar tudo o que se tinha passado, queríamos tentar, queríamos salvar o nosso casamento.
Com o passar do tempo, cada um foi reagindo à sua maneira… eu afastei-me gradualmente do Carlos, que entretanto conheceu outra pessoa e começou a namorar com ela, mas a aproximação com o Luís chegou a um determinado patamar e não evoluiu mais. Estagnámos cada um no seu sítio, e embora tentando sempre que isso mudasse, não tivemos grande sucesso. O Luís também teve outras pessoas enquanto estivemos separados, e como nunca deixou de conviver nem de se dar com essas pessoas, penso que acabou sempre por permanecer essa barreira invisível entre nós.
Por outro lado, apesar de eu e o Carlos praticamente termos deixado de nos falar, eu sei e o Luís também, que tudo o que se passou me marcou para sempre. Que o Carlos é uma pessoa que vai sempre ter um espaço no meu coração, que nunca vou esquecer e que vivi momentos maravilhosos com ele. Por tudo isso e mais uma série de outros factores provavelmente bem estudados por psicólogos em situações do género, a nossa relação não ressuscitou.
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